sábado, 2 de março de 2013

Saudade Mortal


Há muito de mistério e peculiar na palavra saudade.
Um simples vocábulo de sete letras; uma chave tão pequena e dourada, que abre tantas coisas!
Só sete letras... sete letras que encerram lágrimas, sorrisos, abraços e lembranças... Que abarcam estações, mundos, cores, danças e... muito.
Palavra estranha. Única. Verdadeira.
Eu... eu sinto saudades.
Não a sinto em dosagens parcas ou em efeitos lentos.
Sinto-a com fúria que me estremece a carne, e com ímpeto tal que emudece minhas emoções e rasga minh'alma.
Torno-me escravo portanto desta saudade, escravo deste sentimento que mastiga minhas entranhas e despedaça meu coração. Escravo desta assombrosa palavra que tal como um ser faminto, devora-me por dentro raivosamente.
Sou prisioneiro da Saudade das saudades! Daquela saudade mais sublime, da saudade que conclama todas as outras a se aproximarem. Aquela saudade que esmurra o peito em cada ocaso, que violenta o coração em todos os bons começos, que sussurra nas músicas de amor, que faz carícias com a brisa e que eleva o espírito na poesia e na literatura.
Sou prisioneiro da saudade daquilo que não vi, e não vivi; saudade de ser abraçado de forma transcendente; saudade não de um simples abraço, mas um abraço que corrija minhas imperfeições e me reconstrua. Sou prisioneiro da saudade do Amor, da saudade de Deus, a saudade do Noivo.
Saudade do meu melhor amigo, do meu Criador; saudade do Infinito, do Tudo, do Fim.
Sinto saudades porque só Nele eu sou completo, sinto saudades do Seu amor, saudades do meu Pai!
E infelizmente receio estar fazendo o Comum, ou mesmo o que se espera de mim, mas eu não fui chamado para cumprir obrigações; é necessário, portanto, correr ao Seu encontro. E embora repleto de medo, ferido, cheio de mágoas e defeitos, não posso ficar parado nem por um instante.
O êxtase da plenitude, as elevações do espírito, e o perfume doce da alma alegre, tão bem sentidos em todas as boas coisas do Universo que os homens experimentam, apontam para a Causa das Causas, o Infinito pai de todas as coisas finitas, o Começo, o Altíssimo, Senhor dos Tempos, Senhor de Tudo; diante Do Qual tudo desvanece, diante Do Qual toda a existência sucumbe.
Há muito mais do que simplesmente trabalhar, ter filhos, envelhecer e ser arrastado pela vida...
Sinto saudades, portanto, e é essa saudade que derrama sem cerimônia brasas no meu interior e quebranta o âmago do meu ser; e é esta saudade mortal que me mata a cada dia para que eu esteja perto Dele, porque longe Dele nada faz sentido e as cores se misturam e perdem o brilho. E é prostrado aos seus pés que minhas ambições tornam-se vãs, e minhas fantasias são destronadas.
Estou cercado por esta saudade mortal cuja lança afiada jaz cravada em meu peito, fazendo escorrer o sangue vão da minha existência egocêntrica. E é ela, a mesma saudade, que sorri e pisca um dos olhos, dizendo-me em palavras mudas, que esta é a hora, e que há esperança, que Ele me ama e me aceita de volta!
Mata-me então Saudade! Mate-me para que eu possa respirar outra vez!
Saudade... Uma chave tão pequena e dourada, que abre tantas coisas!
Palavra estranha. Única. Verdadeira.
Sete letras...
Só sete...


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